domingo, 24 de outubro de 2010

SAME - Lar de Idosos Nossa Senhora da Conceição: Política, História e Educação Física

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Marcel Alves Franco
Prof. Dr. Hamilcar Silveira Dantas Júnior
Segue o resumo expandido de um trabalho produzido por mim e pelo professor Hamilcar (DEF/UFS) no final de 2009. Este resumo foi apresentado no III Simpósio de História da Educação Física e Esporte que aconteceu na Universidade Federal de Sergipe nos dias 21 e 22 de outurbo de 2010, sendo publicado nos anais do evento.
Este pode ser também encontrado no site do CEMEFEL (Centro de Memória de Educação Física Esporte e Lazer): [ http://cemefelufs.webnode.com.br/ ] o qual promoveu o evento.
As palavras-chave do artigo são: Política de Controle da Saúde Pública, Terceira Idade, Abordagem Biopsicossocial, Educação Física.
Interessados em possuir o artigo completo [4shared]:
O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo genealógico sobre a política de controle da saúde pública utilizada para a criação do SAME (Serviço de Assistência à Mendicância), levantando questões sobre a organização, os fatores sociais e culturais que influenciaram nesse projeto, bem como aprofundando-se em conceitos biológicos e sócio-culturais encontrados no senso comum e na ciência e que foram utilizados na tentativa de definir o que é ser idoso. Para sua construção foram tomados os seguintes eixos: fatores históricos e a influência do Estado na organização da sociedade; o surgimento do SAME; sobre a terceira idade e os conceitos biológicos e sociais que impregnam a definição do que é ser idoso; e um ensaio sobre a Educação Física, práticas e rotinas corporais. Tendo em mente que “pelo conhecimento, o homem pode libertar-se do medo e das superstições, deixando de projetá-las no mundo e nos outros” (CHAUÍ, 2000, p. 250). Pensando no momento histórico da época analisou-se o surgimento do SAME – Lar de Idosos Nossa Senhora da Conceição em 1949, inaugurado enquanto Serviço de Assistência à Mendicância: “O ato revestiu-se do maior brilhantismo, conseguindo despertar vivo interesse por parte da população de Aracaju. Os amplos salões e o parque interno encontravam-se repletos de pessoas de todas as classes sociais, sem distinção de côr, profissão ou credo, numa bela demonstração de simpatia e aplauso à obra que a todos empolgava. (Ata de Fundação, 1949, p. 5)”. Sua importância se dava na organização social e nos hábitos que degeneravam tanto a estética da localidade quanto a saúde, para tanto, segue a premissa de “proporcionar aos mendigos uma assistência espiritual e material de acordo com os princípios institucionais” (Ata de Fundação, 1949, p. 1)”. Dessa forma, o trabalho busca estabelecer ligação, de forma indireta, com a questão do poder, suspensão de direitos, organização e interesse, para que, tomando-a como referência, possamos perceber um dos princípios para se organizar a sociedade de maneira que haja estruturação entre as diferentes camadas populares, isolando e mantendo-as sob controle. “(...) distribuir os indivíduos uns ao lado dos outros, isolá-los, individualizá-los, vigiá-los um a um, constatar o estado de saúde de cada um, ver se está vivo ou morto e fixar, assim, a sociedade em um espaço esquadrinhado, dividido, inspecionado, percorrido por um olhar permanente e controlado por um registro, tanto quanto possível completo de todos os fenômenos. (FOUCAULT, 1979, p.89).” Nesse sentido, a partir de bases teóricas foucaultianas, confirmar a necessidade de um modelo educacional (higienista) vinculado à preocupação com a questão da salubridade para além da educação: “Salubridade não é a mesma coisa que saúde, e sim o estado das coisas, do meio e seus elementos constitutivos, que permitem a melhor saúde possível (FOUCAULT, 1979, p. 93)”. No âmbito da Educação Física foram realizados debates e reflexões acerca da terceira idade: sobre o surgimento dos asilos que, segundo SILVA (2004, p.15), “A criação desses diferentes equipamentos institucionais teve por objetivo assistir certas categorias de populações carentes cujas necessidades não eram supridas dentro do próprio tecido informal das relações sociais”; sobre o envelhecimento, baseado em concepções biológicas e socioculturais, atenta que seja “útil distinguir entre o envelhecimento primário [grifo do autor], que inclui todas as mudanças irreversíveis e universais que ocorrem ao longo do tempo, e o envelhecimento secundário [grifo do autor], que se refere às mudanças causadas por condições especiais ou doenças.” (BERGER, 2003, p. 399); estereótipos, negativos e positivos; direitos e deveres da sociedade enquanto determinante no processo de assistência, de culturalização, de segurança e de lazer ao idoso, e; discutindo sobre o campo de atuação da Educação Física, suas possibilidades, alternativas e ideias em meio as intervenções, estabelecendo nexos com a estrutura física da instituição (horta, espaço para eventos, etc.). O levantamento histórico trabalhado, conjuntamente com a Educação Física, intentou apresentar as incidências sobre o corpo do idoso, buscando apontar as explicações para determinadas causas e consequências no seu desenvolvimento através das relações, principalmente, entre Poder e sujeito. “O sofrimento físico, a dor do corpo não são mais os elementos constitutivos da pena. O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos. Se a justiça ainda tiver que manipular e tocar no corpo dos justiçáveis, tal se fará à distância, propriamente, segundo regras rígidas e visando a um objetivo bem mais «elevado»” (FOUCAULT, 1977, p. 16). Dessa maneira, pensar o Homem enquanto sujeito participante nesse importante processo de construção cultural e social, enquanto um ser individual e coletivo, que carrega consigo um arcabouço rico em história e conhecimento, torna-se um fator que corrobora com a constituição de cada um de nós, na maneira de pensar e agir para com o outro.

REFERÊNCIAS
BERGER, Kathleen S. O desenvolvimento da pessoa: da infância à terceira idade. Rio de Janeiro: LCT. 2003.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal Ltda. 1979.
______. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis, RJ: Vozes Ltda, 1977.
GALLAHUE, David L.; OZMUN, John C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2001.
GOELLNER, Silvana V. Bela, Maternal e Feminina: Imagens da mulher na Revista Educação Physica. Ijuí – Rio Grande do Sul: Unijuí, 2003. (Coleção Educação Física)
GOHN, Maria da G. Movimentos sociais e educação. São Paulo: Cortez Editora. 1992.
KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do Esporte. Ijuí - Rio Grande do Sul: Unijuí, 1994.
MELO, Victor A. de. História da Educação Física e do Esporte no Brasil: panorama e perspectivas. 4ª. São Paulo: IBRASA, 1999
SAME (Instituição): Ata de Fundação. 1949.
SANT’ANNA, Silvio. A Cosmovisão dialético-materialista da história. IN: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martin Claret, 2006, p.11-31.
SILVA, R. N. Notas para uma genealogia da psicologia social. Disponível em: Último acesso em: 21, de julho, de 2010 IN: Revista: Psicologia & Sociedade; 16 (2): 12-19; maio/ago. 2004.
SENADO FEDERAL (Senador Antônio Carlos Valadares). Terceira Idade: cartilha de qualidade de vida. Brasília: Senado Federal, 2008. (Estatuto do Idoso).
SOARES, Carmem L. Educação física: raízes européias e Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. – (Coleção educação contemporânea).