quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Dedico ao seu bem.

Em quantos momentos da vida, de verdade, paramos? Olhar para "o nada" e ficar extasiado, se esforçando para não pensar em nada. "Esquecer os problemas". Dedicamos muito do nosso tempo de vida ao mundo do trabalho. De certo, é algo necessário para sobreviver, mas, e aí...?
É incrível, o quanto de pessoas egocêntricas que existem. Minha vida, meu mundo. É tão difícil perceber que existem, não apenas seres humanos ao seu redor, mas também seres vivos? "- Mas Fulano fez por merecer tudo o que tem hoje..." Está certo. Mas e Sicrano que desde que nasceu precisa de uma bomba para respirar e tudo o que tem é "o pão que o diabo amassou"?

Bom, isso não significa que devamos deixar tudo o que nos aconteceu de lado, e seguir essa causa, apenas algo para refletir.

Acho difícil ver, hoje em dia, pessoas falando umas para as outras o quanto elas são importantes para suas vidas. (E não me refiro à mãe/pai/entre outros entes). Você ouvir um "eu te amo" (ou ler nos bilhetinhos, recados, etc) é algo que está se tornando cada vez mais privado. Se não for para pessoas que sejam parentes, ou amigos (as) MUITO próximos (as), é difícil.

"E eu vou amar a quem não conheço, por acaso?" Bom.. supostamente, vivemos em sociedade, seres que si autodenominam racionais, e de tão racionais devem compreender o outro pela sua forma e existência.

Mas, para chegar no ponto desse texto, devo, em primeiro momento, abrir uma reflexão sobre: "o que é amor?" Afinal, acredito na existência das mais diversas relações entre as pessoas e que, em algo, nessas relações, é possível de se encontrar componentes deste tal problemtático sentimento.

É algo bastante complexo e cheio de interpretações. Existem discursos de que amor é "aquilo que arde sem doer"... "é quando duas pessoas se gostam"... "é a reciprocidade dos sentimentos". Acredito que é um pouco de tudo, até mesmo de ódio. Por mais que pareça brincadeira, quando se atenta ao clássico "eu odeio te amar assim", isso se torna questionável. Não que seja algo ruim, pelo contrário, é nesses momentos que as pessoas amam de verdade, só que não sabem.

Confiar, pelo menos hoje em dia, é algo bastante arriscado. Existem pessoas que vão conquistando aos poucos a confiança do outro, existem pessoas que confiam 100% de cara. E é na primeira "besteira" que cai a confiança de 100 para 0. Fora o que ocorre também quando uma pessoa está traumatizada e as próximas pessoas que tentarem se aproximar dela já estarão com saldo negativo de confiança. Quase que isso é justo.

Respeito... esse é divertido. É um clássico: "Respeite que será respeitado". Pode-se dizer que são os limites de cada pessoa. É saber onde acaba o seu e começa o de outrem.

Felicidade. Esse já é um pouco mais difícil de situar. (Vou explanar segundo meu ponto de vista, que fique claro.) Eu considero assim... felicidade é um estado. Muito diferente de "momento". Estado no sentido de ser, de sentir, de viver profundamente algo. Normalmente, quando se está feliz, outras pessoas se sentem. Pessoas que até mesmo não conhecemos. Um exemplo: Ver pessoas que não conhecemos sorrir, dando aquelas gargalhadas, que é claramente perceptível que são de verdade, nos toca de alguma forma. Sentir a aura da pessoa.

Alegria é um dos passos para se chegar à felicidade. Mas, esta é mais momentânea. Não depende tanto da outra pessoa. Há de haver várias maneiras para se ficar alegre, contudo, devo concordar que é muito fácil de confundir essas duas: Felicidade e Alegria. Para mim, o que diferencia é o próprio estado de espírito, a essência da pessoa. Se estivermos nos sentindo bem e com um tempinho depois começar a me sentir diferente, é porque foi algo que me deixou alegre.. logo.. algo momentâneo. É bom ter momentos alegres na vida, compartilhados ou não. Mas de preferência, compartilhe-os. Torna-se mais fácil de alcançar a felicidade se for aberta a oportunidade do outro participar do SEU momento.

Compaixão: é saber perdoar e saber a hora de pedir perdão. Por qualquer coisa. Acredite na ideia de que a outra pessoa tem sentimentos, tem uma vida que não é ligada diretamente à sua e que ela passou/passa por momentos que nem ela sabe explicar e que devem ser compreendidos e respeitados. É também estar ao lado e oferecer o que se tem, sem esperar nada em troca. É oferecer a mão sabendo que levará algumas patadas. (É bom saber a hora de fazer isso, compaixão é uma coisa, ignorância é outra).

Saudade é algo que dói... e não dói pouco. A saudade de alguém que esteve sempre ao seu lado e foi embora. Alguns voltam, outros não. Amenizamos acreditando que "estarão sempre conosco". Protegendo-nos, nos guiando, entre outras coisas. Sentir saudades faz parte do nosso desenvolvimento. Ela é um dos caminhos pelos quais descobrimos a importância de alguém e/ou das coisas. Um abraço, um olhar, um aperto de mão, um desenho, um rabisco, uma assinatura, uma música. (E créditos a Murphy... sempre nos faz lembrar de algo chocante [bom ou ruim] quando menos esperamos).

Em diversos momentos da vida esquecemos o quão complicado é dizer "eu te amo". As pessoas repetem e repetem.. Casos de relacionamentos são os mais fáceis exemplos: amam tanto que quando "a coisa pega", se separam e se tornam inimigos mortais. Que amor. São fases, como dizem, são momentos, são pessoas. "Encontrar a pessoa certa"... "ESCOLHER a pessoa errada" (o pior é que é sério.. existe isso mesmo: escolher a pessoa errada). Mas enfim... muitos momentos desses, principalmente os traumas, acontecem no período escolar. É uma fase triste, mas boa. Outros aprendem fora dela... encontram alguém... crescem... se casam... se separam... se casam... se separam... e se casam de novo. Está difícil encontrar relacionamentos duradouros.

Minha hipótese é que não ensinamos às crianças o que é e o que representa o amor na vida das pessoas. A importância, porque é sofrido tão difícil manter o amor vivo. Talvez devêssemos reconfigurar e tentar conceituar o que é amor, mesmo que seja de modo particular, isso já seria um passo bastante significativo.

Como disse, essa é a minha opinião. Caso queiram tentar, descobrir a dificuldade que é tratar disso, tentem fazer uma dinâmica. Não necessariamente de grupo, pode ser você e mais uma pessoa muito próxima ou não. Busquem em suas memórias o que passou com a(s) pessoa(s), o que te agradou e o que não agradou. E complete duas simples frases: "Obrigado (a) por..." e "Desculpe-me por...". Para quem tem facilidade em falar, pode ser uma boa (talvez nova) experiência. Para quem tem dificuldade... vai parecer um trava-língua no começo, mas, deixe fluir. Se não conseguir, não insista. Espere sentir o momento para tentar novamente. Se quiser, tente começar com a pessoa mais próxima a você e com quem você se sente mais seguro (a). Aquele, sem mais, nem menos, eu te amo (aqui sim pode ser mãe, pai, irmão, irmã, tia, cão, cadela, vaca, orangotango, seja quem/o que for. É um começo. Si dar oportunidade é um passo importante. Haverá preocupação com a "rejeição", mas essa é outra questão.

Dedico ao seu bem, primeiramente.

domingo, 24 de outubro de 2010

SAME - Lar de Idosos Nossa Senhora da Conceição: Política, História e Educação Física

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Marcel Alves Franco
Prof. Dr. Hamilcar Silveira Dantas Júnior
Segue o resumo expandido de um trabalho produzido por mim e pelo professor Hamilcar (DEF/UFS) no final de 2009. Este resumo foi apresentado no III Simpósio de História da Educação Física e Esporte que aconteceu na Universidade Federal de Sergipe nos dias 21 e 22 de outurbo de 2010, sendo publicado nos anais do evento.
Este pode ser também encontrado no site do CEMEFEL (Centro de Memória de Educação Física Esporte e Lazer): [ http://cemefelufs.webnode.com.br/ ] o qual promoveu o evento.
As palavras-chave do artigo são: Política de Controle da Saúde Pública, Terceira Idade, Abordagem Biopsicossocial, Educação Física.
Interessados em possuir o artigo completo [4shared]:
O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo genealógico sobre a política de controle da saúde pública utilizada para a criação do SAME (Serviço de Assistência à Mendicância), levantando questões sobre a organização, os fatores sociais e culturais que influenciaram nesse projeto, bem como aprofundando-se em conceitos biológicos e sócio-culturais encontrados no senso comum e na ciência e que foram utilizados na tentativa de definir o que é ser idoso. Para sua construção foram tomados os seguintes eixos: fatores históricos e a influência do Estado na organização da sociedade; o surgimento do SAME; sobre a terceira idade e os conceitos biológicos e sociais que impregnam a definição do que é ser idoso; e um ensaio sobre a Educação Física, práticas e rotinas corporais. Tendo em mente que “pelo conhecimento, o homem pode libertar-se do medo e das superstições, deixando de projetá-las no mundo e nos outros” (CHAUÍ, 2000, p. 250). Pensando no momento histórico da época analisou-se o surgimento do SAME – Lar de Idosos Nossa Senhora da Conceição em 1949, inaugurado enquanto Serviço de Assistência à Mendicância: “O ato revestiu-se do maior brilhantismo, conseguindo despertar vivo interesse por parte da população de Aracaju. Os amplos salões e o parque interno encontravam-se repletos de pessoas de todas as classes sociais, sem distinção de côr, profissão ou credo, numa bela demonstração de simpatia e aplauso à obra que a todos empolgava. (Ata de Fundação, 1949, p. 5)”. Sua importância se dava na organização social e nos hábitos que degeneravam tanto a estética da localidade quanto a saúde, para tanto, segue a premissa de “proporcionar aos mendigos uma assistência espiritual e material de acordo com os princípios institucionais” (Ata de Fundação, 1949, p. 1)”. Dessa forma, o trabalho busca estabelecer ligação, de forma indireta, com a questão do poder, suspensão de direitos, organização e interesse, para que, tomando-a como referência, possamos perceber um dos princípios para se organizar a sociedade de maneira que haja estruturação entre as diferentes camadas populares, isolando e mantendo-as sob controle. “(...) distribuir os indivíduos uns ao lado dos outros, isolá-los, individualizá-los, vigiá-los um a um, constatar o estado de saúde de cada um, ver se está vivo ou morto e fixar, assim, a sociedade em um espaço esquadrinhado, dividido, inspecionado, percorrido por um olhar permanente e controlado por um registro, tanto quanto possível completo de todos os fenômenos. (FOUCAULT, 1979, p.89).” Nesse sentido, a partir de bases teóricas foucaultianas, confirmar a necessidade de um modelo educacional (higienista) vinculado à preocupação com a questão da salubridade para além da educação: “Salubridade não é a mesma coisa que saúde, e sim o estado das coisas, do meio e seus elementos constitutivos, que permitem a melhor saúde possível (FOUCAULT, 1979, p. 93)”. No âmbito da Educação Física foram realizados debates e reflexões acerca da terceira idade: sobre o surgimento dos asilos que, segundo SILVA (2004, p.15), “A criação desses diferentes equipamentos institucionais teve por objetivo assistir certas categorias de populações carentes cujas necessidades não eram supridas dentro do próprio tecido informal das relações sociais”; sobre o envelhecimento, baseado em concepções biológicas e socioculturais, atenta que seja “útil distinguir entre o envelhecimento primário [grifo do autor], que inclui todas as mudanças irreversíveis e universais que ocorrem ao longo do tempo, e o envelhecimento secundário [grifo do autor], que se refere às mudanças causadas por condições especiais ou doenças.” (BERGER, 2003, p. 399); estereótipos, negativos e positivos; direitos e deveres da sociedade enquanto determinante no processo de assistência, de culturalização, de segurança e de lazer ao idoso, e; discutindo sobre o campo de atuação da Educação Física, suas possibilidades, alternativas e ideias em meio as intervenções, estabelecendo nexos com a estrutura física da instituição (horta, espaço para eventos, etc.). O levantamento histórico trabalhado, conjuntamente com a Educação Física, intentou apresentar as incidências sobre o corpo do idoso, buscando apontar as explicações para determinadas causas e consequências no seu desenvolvimento através das relações, principalmente, entre Poder e sujeito. “O sofrimento físico, a dor do corpo não são mais os elementos constitutivos da pena. O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos. Se a justiça ainda tiver que manipular e tocar no corpo dos justiçáveis, tal se fará à distância, propriamente, segundo regras rígidas e visando a um objetivo bem mais «elevado»” (FOUCAULT, 1977, p. 16). Dessa maneira, pensar o Homem enquanto sujeito participante nesse importante processo de construção cultural e social, enquanto um ser individual e coletivo, que carrega consigo um arcabouço rico em história e conhecimento, torna-se um fator que corrobora com a constituição de cada um de nós, na maneira de pensar e agir para com o outro.

REFERÊNCIAS
BERGER, Kathleen S. O desenvolvimento da pessoa: da infância à terceira idade. Rio de Janeiro: LCT. 2003.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal Ltda. 1979.
______. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis, RJ: Vozes Ltda, 1977.
GALLAHUE, David L.; OZMUN, John C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2001.
GOELLNER, Silvana V. Bela, Maternal e Feminina: Imagens da mulher na Revista Educação Physica. Ijuí – Rio Grande do Sul: Unijuí, 2003. (Coleção Educação Física)
GOHN, Maria da G. Movimentos sociais e educação. São Paulo: Cortez Editora. 1992.
KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do Esporte. Ijuí - Rio Grande do Sul: Unijuí, 1994.
MELO, Victor A. de. História da Educação Física e do Esporte no Brasil: panorama e perspectivas. 4ª. São Paulo: IBRASA, 1999
SAME (Instituição): Ata de Fundação. 1949.
SANT’ANNA, Silvio. A Cosmovisão dialético-materialista da história. IN: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martin Claret, 2006, p.11-31.
SILVA, R. N. Notas para uma genealogia da psicologia social. Disponível em: Último acesso em: 21, de julho, de 2010 IN: Revista: Psicologia & Sociedade; 16 (2): 12-19; maio/ago. 2004.
SENADO FEDERAL (Senador Antônio Carlos Valadares). Terceira Idade: cartilha de qualidade de vida. Brasília: Senado Federal, 2008. (Estatuto do Idoso).
SOARES, Carmem L. Educação física: raízes européias e Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. – (Coleção educação contemporânea).

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Centros Comerciais: a cultura mercantil e as rotinas que o corpo é submetido.


[Texto escrito em 2009 direcionado à disciplina Filosofia, Educação e Corpo, ministrada pelo Prof. Dr. Hamilcar Silveira Dantas Júnior (DEF/UFS)]

Possuindo um contexto um tanto abrangente, os centros comerciais podem ser considerados como adestradores corporais, uma vez que, a rotina que direcionam ao corpo e as exigências da cultura do comércio burguês fazem com que se tornem semelhantes desde a época do feudalismo. Em traços históricos, com a revolução industrial que ocorre no Brasil em meados do século XIX, as principais mudanças no sistema do mercantilismo foram a introdução e inovação de maquinário em conjunto da mudança da relação patrão-empregado e a reestruturação das industrias de base no seu método de produção. O surgimento das leis trabalhistas se dá posteriormente como consequência da idealização dos valores humanos, fazendo com que os trabalhadores não mais fossem obrigados a trabalhar 12 (doze) horas diárias.
Voltando a tratar da corporeidade aparente nos centros comerciais, é perceptível o quanto que o corpo passa por obstáculos todos os dias, obstáculos esses que os fazem, às vezes, incondicionalmente. Criam uma rotina de deslocamento que, ao nascer do sol, passam pelos mesmo caminhos para chegar a seu ponto de venda e arrumá-lo para a clientela que nem sabe se irá ter. Pode se considerar um tipo de obstáculo a mistura de produtos numa mesma área sem divisória. De um lado são verduras; do outro um matadouro, ou então um vendedor de farinha. Produtos que serão levados ao consumidores, levantando, também, a questão da higiene sanitária do ambiente onde o corpo passaria várias de suas horas diárias.
Um outro ponto que é bastante relevante, são os fatores climáticos e suas alterações que, sendo frequentes, afetam tanto na qualidade dos produtos como nos corpos de ambos, vendedores e consumidores. E não subjugando o odos o esforço que outrora se torna satisfatório, pois resultará na suposta recompensa, deve ser posto em questão os cuidados que se deve ter ou que pelo menos deveria ter para que o corpo não sofresse tanto quanto já sofreu em décadas passadas.
Com a introdução e inovação dos maquinários no lugar do trabalho manual, o esforço do corpo ia sendo por mais vezes substituído, alguns, logicamente, caberiam pontos positivos, sendo estes os que não colocariam mais o corpo à proa ou pemons se colocaria entre o processo de fabricação e o homem, dando uma margem mas alta de segurança. Contudo, não sofreria alteração quanto sua carga horária no trabalho, ou seja, para os patrões, suas indústrias produziriam mais no mesmo tempo estimado de trabalho, então, não haveria o porquê de alterar a carga horária diminuindo-a, isso resultaria para que houvesse a preocupação com o lucro de forma mais direta, deixando o trabalhador de lado.
A carga horária de trabalhadores industriais era cerca de 12 (doze) horas diárias com intervalo para almoço. Dessa maneira, é notável o quanto o corpo é massacrado, retratado bem nossa problemática o filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, que ressalta a vida corriqueira dos empregados industriais e mostra claramente que o corpo sofre não só fisicamente, mas também psicologicamente, atuando diretamente no sujeito. E, resgatando um outro exemplo, de forma mais simples sobre o que ocorre, no filme “Abril Despedaçado”, bois começam a rodar sozinhos no engenho, acostumados com a rotina que são submetidos, afinal, foram adestrados quanto ao movimento corporal, que, do mesmo modo, o corpo do homem quando submetido ao esforço repetitivo se degrada e seus movimentos se tornam costumeiros, ou seja, sem tanta finalidade ou complexidade, o fazem sem pensar.
Dentro das fábricas, o corpo se submete a movimentos que exigem muito de sua concentração e de sua agilidade, prioritariamente em atividades repetidas várias e várias vezes por dia. Nisso, a consequência que como mostra em “Tempos Modernos” seria que o homem continuasse a fazer os mesmos movimentos como se fossem “tiques nervosos” mesmo depois de terem saído das fábricas, o que representa sinais de danos neurológicos.
Mas, partindo para um local mais aberto e fora de tanta tecnologia, as feiras populares são um dos melhores exemplos expostos para se observar as interações corpo e meio, corpo e produto e, de certo modo, a relação social entre comerciante e consumidor. Primeiramente, com a relação corpo e meio, devemos ressaltar a ideia de que estes comerciantes podem não ter a escolha de ir às feiras e os motivos que os fariam se submeter a isso é variante, podem fazê-lo por possuir uma baixa renda impossibilitando que se sustente ou sustente sua família devidamente, pode ser também por ser aposentado e não querer ficar parado em casa, entre outros motivos e fatores que os levem a trabalhar nas feiras.
Contudo, essa relação quanto à corporeidade é mais relevante no que se passa a ser de influência direta no corpo, como por exemplo, no fator temperatura que influencia não só nos corpos dos homens, mas também nos microrganismos que ali residem, outro exemplo seria analisar se o local da feira possui uma organização que acomode bem cada sujeito na estrutura física da feira, ou se os sujeitos que dela participam como comerciantes e consumidores, possuem algum tipo de auxílio de segurança ou de agentes da saúde, que devem ser considerados de suma importância em locais insalubres.
São fatores básicos que podem ter influência e causar danos físicos em uma vida prolongada, pois, o ambiente também causará alterações fisiológicas nos corpos, uma vez que, o corpo tenha que se adaptar. Com o passar do tempo, serão exigidas essas mudanças ou então o corpo simplesmente não conseguirá se manter no local por muito tempo.
Na relação corpo e produto, observam-se, inicialmente, as procedências por quais passaram os sujeitos e as mercadorias. As tendências nos centros comerciais nos dias de hoje se centram nos conceitos de concorrência que, algumas vezes, essa concorrência ainda leva a adjetivação de desleal, o que afetará posteriormente na harmonia das relações que ali existem. Contudo, junto às necessidades primárias (com preocupação maior na saúde e alimentação), vem a vontade de ampliar os lucros, o que exige certo sacrifício financeiro e um corpóreo, afinal, toda a correria, preocupações e estresses caem sobre os responsáveis do negócio. Em suma, o corpo do comerciante vendedor irá sofrer as consequências necessárias para manter seus produtos bem aparentes, chamativos e variados para que atraia a atenção do cliente, enquanto que o consumidor deverá se preocupar com as procedências do vendedor e as do produto para que não haja algo que possa lhe prejudicar.
Abordando de forma diferenciada, a relação entre comerciante e consumidor pode passar de uma relação comercial para uma social e vice-versa. Esta interação se faz inicialmente pelos produtos atrativos, os quais os comerciantes arriscam que serão mais básicos e que os consumidores irão procurar com mais frequência ou os que simplesmente irão chamar atenção. A partir daí, toma-se o rumo da seleção de comerciantes mais confiáveis ou com maior variedade de produtos, existindo certos fatores que influenciam bem nessa escolha, são eles: higiene do local, qualidade e variedade de produtos, se o vendedor já for um conhecido ou ao menos próximo à alguém conhecido, ou então se o vendedor realmente tiver uma boa dicção com o objetivo de convencer o cliente sobre determinado produto, ou uma boa empatia, isso o fará ter uma boa fama, um bom status.
Deste modo, é de notável observação o decorrer histórico-evolutivo dos centros comerciais. Evolutivo no sentido de que alternativas de comércio surgiram e que não envolviam tanto as indústrias que, no decorrer desse contexto, a forma como o corpo era observado e utilizado também mudou. A utilização dos novos maquinários trouxeram o benefício de não por tanto o corpo à prova, mas tendo o contraponto de substituir o cargo de alguma especialidade retirando assim o emprego de alguém. Mas que, como toda boa história, há de haver pontos positivos e negativos que cabem a seus respectivos donos, as opiniões e críticas que lhes agradem ou não, contudo, é importante ter em mente de que o material que se trata aqui é o corpo humano (nosso corpo) e sua funcionalidade quanto à cultura mercantil.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Dia-a-dia na cidade grande

[Texto escrito em março de 2006, aos meus 17 anos]

Como outro dia qualquer, nascer do sol, mesmas pessoas, mesma cidade. Ao irem para uma cidade grande, sonhadores acham que será a melhor mudança que farão em suas vidas. Emprego fácil, dinheiro mais fácil ainda. Coitados, sonham alto demais. Mas, o pior é dizer que casos como esses realmente ocorrem, quase nunca, mas ocorrem.
5:30 am”, horário de trabalho. O despertador alarma. João, mais conhecido como Jão, coisa da cidade, é para não perder muito tempo chamando o nome todo na correria da cidade.
Cansado, trabalhador que faz parte do grupo de construção desse “formigueiro”. Quase um trabalho escravo, de 6 às 18 horas (jornada de trabalho, convenhamos que a essa altura, século XXI, isso é um absurdo.), trabalha duro para ao menos garantir seu pão. Que não é o caso de mais um dos milhares de cidadão desempregados, mas que por pura, mas pura coincidência naquela cidade mudaria a vida de um deles, seu nome, Osvaldo, ou “Osfalto” como acabou sendo conhecido depois que foi encontrado embriagado em plena avenida principal e quase foi atropelado por um rolo-compressor no trecho que estava sendo asfaltado.
Osvaldo, desempregado a 2 anos, estava no bar, deliciando aquele bom e velho pãozinho com café, sem leite e uma colherzinha de açúcar, que lhe era servido de graça. O “barman”, de tanto expulsá-lo, acabou até conversando com ele e agora faz sua parte para diminuir a fome nas localidades. Enquanto come o pão, Osvaldo olha pela vidraça desconsolado, vendo o movimento mecanizado da cidade, um “bolo de carne humana não pinicada” entrando e saindo do metrô:
-”trabalhar....trabalhar....”, foi esse o comentário de um desempregado quando lhe perguntaram as horas.
Embora tudo parecesse monótono, depressivo e solitário, Osvaldo ainda carregava consigo a vontade de ser um trabalhador honesto, cuja felicidade chegaria a ser comparada com a de Lucy. Uma jovem menininha que vive sua infância planejada e sendo realizada pela sua babá. Uma garotinha que tinha tudo, menos a felicidade que, para ela, seria estar próxima dos pais.
Lá estava ela observando pela janela do apartamento que era obrigada a ver todos os dias, um casal de classe alta muito alta, ricos em outras palavras... O homem da casa, Rodolfo, era bem conhecido socialmente, já que diferente de sua esposa, que é extremamente material, ele costumava fazer crianças felizes com eventos para a recreação, nomes bem simples eram dados para esses eventos, “0800”. Sua esposa, Marta, criada numa família rica, pais ricos, avós ricos, o que der para imaginar de “tatatatata....taravós” na família dela, eram ricos. Acabou se casando com o Jorge, depois com o Douglas, final das contas está casada pela quinta vez.
Estavam a fazer compras. Casacos de pele, cachecóis, entre outras peças para vestimenta finíssima. Ao ver o resultado da conta, coitado! Quase que se foi de enfarto. Apesar de rico agora, existem poucas pessoas que conhecem o valor de um número com 4 algarismos antes dos centavos, e que ainda antes dos 4 algarismos vem o que mata, “VALOR TOTAL”.
Foi até a janela para respirar um pouco e pensar. Quando viu uma garotinha que os observava pensativa, olhou ao redor viu numa construção dois rapazes felizes da vida, um entrando na construção de terno com um sorriso que vai até as orelhas, o mesmo se via do homem que saia correndo da construção, rotinas da cidade... O rapaz que entrava, era o Osvaldo, que teve a sorte de ser confundido com um trabalhador e ser posto para fazer serviço na construção, já o outro, era o Jão que finalmente se deu conta que a vida dele não era naquela construção, e saiu daquela rotina.
Ambos, no momento que pararam para pensar, perceberam que faltava algo para despertar a felicidade. Para a jovem Lucy seria a presença dos pais, para o Rodolfo seria a liberdade, já que era controlado pela esposa, para o João seria a paz, descanso, um pouco de diversão, para o Osvaldo, foi o emprego que lhe faltava a muito tempo. Final feliz e muito blá blá blá para sempre... essas são mais algumas das coincidências que ocorrem numa cidade grande...