segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Vivendo e aprendendo.

Hoje, dia 21 de Fevereiro de 2011, presenciei uma cena que me incomodou. Apesar de dizermos que isso "é comum", ainda assim, ao presenciar uma aula de Educação Física que envolvesse alguma modalidade esportiva, me surpreendi.

Estava acontecendo uma aula de Educação Física, numa escola de nível médio, técnico e superior, na cidade de Aracaju, Sergipe. Segunda semana de aula, do corrente ano. O Professor iria trabalhar com os alunos a modalidade do Handebol.

Iniciando com a chamada... os alunos que chegam atrasados não participam. Em seguida, iniciam um alongamento e partem para a primeira atividade com a bola. A atividade trabalharia o passe, explica o professor. "Quando forem lançar com o braço direito, deixar um ângulo reto no cotovelo, se posicionar com a perna direita na frente, dar um passo de impulso com a perna esquerda e fazer o lançamento com o braço todo, acabando o movimento na mão." Até aí, nada de tão surpreendente. Continua: "Quem for recepcionar, perna direita na frente, recepciona e faz o mesmo movimento: perna esquerda para frente e lança a bola". Os alunos estávam disposto em 4 grupos, 2 colunas, uma de frente para a outra, com 3 pessoas em cada. Por enquanto, estava tudo sob controle. Até chegar a hora em que os alunos deviam experimentar. Foram repetindo e repetindo. Alguns acertavam outros erravam, como era de se esperar. Alguns não se preocupavam como lançar/recepcionar, faziam como queriam. Uns lançavam alto demais; outros na altura dos pés. O Professor parou a atividade explicou que o passe deve ser feito "de modo que o colega faça a recepção na altura do tórax". Ele até perguntou se tinha algum canhoto (uma das primeiras coisas que me surpreendeu, mas, em seguida, ele pediu para que os alunos "utilizem, apenas, sua mão hábil"). Os alunos continuaram tentando. Encerrada a atividade, o professor parte para outra. Formam duas colunas, uma ao lado da outra, dessa vez, e devem atravessar a quadra, de um gol ao outro, trocando passes. Dessa vez, utilizando apenas a mão direita.

Ao chegar no outro gol, deviam voltar por fora da quadra e trocarem de fileira. Era óbvio que para as crianças ainda faltavam uma boa prática para melhor a coordenação motora. Alguns corriam aos tropeços. Outros bem (os meninos que jogavam futsal quando não tinha aula). Mas, no ato de correr e lançar a bola, complica. E muitos se atrapalhavam. Afinal, duas habilidades que merecem um certo grau de atenção, pois ambas possuem finalidades distintas e ritmos diferenciados. Um dos meninos lançou a bola na altura dos pés do outro e parou de correr, esperando que o colega buscasse a bola e retornasse para a atividade. O Professor ao ver a cena, falou: "Passe no pé do colega? Isso é falta de raciocínio!". O aluno se manteve calado e esperou o colega. Assim que voltou, retomou a corrida e os passes. Um outro jogou a bola alta demais, de modo que, mesmo pulando, o seu colega não conseguiu segurar a bola, batendo em sua mão e indo para perto do professor. O aluno que fez o lançamento começou a rir do colega, por causa que, mesmo ele se esticando todo, não conseguiu fazer a recepção. O Professor interviu: "Não é para achar graça não. Se errou, é para ficar triste! Não é para sorrir. Só é para rir quando acertar. Deixo até aplaudir quando acertar".

Encerrou a atividade e iniciou outra: a mesma coisa. Estafeta. Só que três colunas, em vez de duas. A bola ia para um lado, voltava para o meio, e quem estivesse no meio, fazia a inversão. O Professor explicou que era a situação "real de jogo". Perguntou: "quantas pessoas participam de um jogo de handebol?". Os alunos responderam que 7 (sete). Afirmando, continuou: "isso mesmo! 3 armadores, 2 pontas e pivô" (não citou goleiro). Continuou explicando a atividade: "Normalmente, dos três armadores, o do meio é o mais habilidoso. Por quê? [antes que pudessem falar algo, ele mesmo responde] Por causa que ele, distribui a bola para os dois lados". E disse para eles tentarem. O primeiro trio que foi fazer, "errou". Bola foi para um lado, foi para o meio e voltou para o mesmo lado. O professor exclama: "Sabe o que é isso? É falta de raciocínio! Não presta atenção. Quando eu falo, fica batendo bola, não escuta, atrapalha quem quer aprender. Falta de raciocínio!".

A partir dessa intervenção, os alunos foram devagar. A quadra ficou mais silenciosa. Provavelmente, medo de errar. Prestando atenção, na questão da fundamentação da modalidade, e pelo pouco que eu sei, muito pouco do handebol, por sinal, assimilei de forma que pude reconhecer o conteúdo a ser transimido. Dúvidas de que o Professor em questão tem domínio da modalidade, não há. Contudo, o que me preocupou mais, foi o trato com a criança.

Narro este dia com o intuito de parar, sempre que puder, e analisar. O que posso fazer para intervir nisso. Um dos discursos que é muito utilizado nos dias de hoje é "a formação de professores". Acredito nessa ideia. Alunos aprendendo a aprender e a ensinar o que se aprende, como se aprender e para que se aprende.

Até então, em minhas aulas, não passei uma fundamentação técnica específica, mas os fiz experimentar diversos movimentos. Fui chamado, mais especificadamente, por causa do Basquetebol, o que foi um certo desafio: Não haviam tabelas. O que chega a ser bastante desmotivante, afinal, boa parte da diversão, do reconhecimento do "sucesso" no basquete, é fazer a cesta. Utilizei de recursos como o travessão, da trave de futebol, como objetivo (no lugar da cesta). Certo dia, quando cheguei, os alunos já estavam lá jogando. Aos poucos fui explicando as regras e como elas podem ser reconhecidas numa partida (o que inclui as violações e faltas). Passei exercícios de coordenação e drible. Fiz com que eles mesmos pensassem em percursos que exigissem deles. Apresentei para eles alguns valores, enfatizando o Respeito. Pelo próximo, por si próprio, pelos limites do outro e os nossos. Pela velocidade que uns aprendem: uns demoram um pouco mais; outros não. Para encerramento, da modalidade, e do meu contrato, devo levá-los a visitar espaços públicos voltados a prática da modalidade. Uma nova lição: direitos, deveres e os espaços públicos.

Normalmente que paramos para conversar com um desses Professores, escutamos: "... na minha época não era assim. Vocês não recebem a formação que a gente recebeu. Nem se compara. A nossa era muito melhor do que é hoje". E que por sinal, escutei isso desse Professor. Antes que eu esqueça, sou Estagiário, contratado do Setor de Educação Física dessa Instituição de Ensino (IE). Contratado para estimular, nessa mesma IE, uma "Cultura Esportiva". Contudo, acredito que para que seja necessário alcançar essa tal cultura, seja preciso passar para os alunos conhecimentos básicos e apresentar-lhes valores que são adquiridos com o amadurecimento e que o esporte (enquanto envolto em um contexto escolar) pode e deve proporcionar.

Hoje, percebi algo novo. A necessidade de ensinar a esses Professores, que contribuem direta e indiretamente em minha formação, de que estou me formando não para ser melhor do que ele foi, mas sim, para ensinar a eles que eu aprendi tanto com eles que fui capaz de ensiná-los isso: aprendi a ensinar a quem me ensina. Identificando lacunas na minha aprendizagem e procurando-os (os Professores). Fazendo-os se esforçar um pouco mais. Tirando-os da rotina e do descompromisso. Colaborando para que ressignifiquem a Educação (ou que reconheçam seu potencial) e sejam pessoas ativas ainda, ou novamente. Estou passando a acreditar nessa ideia.
Ora, como dizem: "Professor ensina muitas coisas aos alunos. E os alunos também ensinam muitas coisas aos Professores". Espero que enxerguem essa crítica dessa maneira.

A propósito, a aula se encerra após essa atividade, com outro alongamento, com o Professor falando ao celular enquanto manda os alunos guardarem as bolas.