terça-feira, 22 de junho de 2010

Dia-a-dia na cidade grande

[Texto escrito em março de 2006, aos meus 17 anos]

Como outro dia qualquer, nascer do sol, mesmas pessoas, mesma cidade. Ao irem para uma cidade grande, sonhadores acham que será a melhor mudança que farão em suas vidas. Emprego fácil, dinheiro mais fácil ainda. Coitados, sonham alto demais. Mas, o pior é dizer que casos como esses realmente ocorrem, quase nunca, mas ocorrem.
5:30 am”, horário de trabalho. O despertador alarma. João, mais conhecido como Jão, coisa da cidade, é para não perder muito tempo chamando o nome todo na correria da cidade.
Cansado, trabalhador que faz parte do grupo de construção desse “formigueiro”. Quase um trabalho escravo, de 6 às 18 horas (jornada de trabalho, convenhamos que a essa altura, século XXI, isso é um absurdo.), trabalha duro para ao menos garantir seu pão. Que não é o caso de mais um dos milhares de cidadão desempregados, mas que por pura, mas pura coincidência naquela cidade mudaria a vida de um deles, seu nome, Osvaldo, ou “Osfalto” como acabou sendo conhecido depois que foi encontrado embriagado em plena avenida principal e quase foi atropelado por um rolo-compressor no trecho que estava sendo asfaltado.
Osvaldo, desempregado a 2 anos, estava no bar, deliciando aquele bom e velho pãozinho com café, sem leite e uma colherzinha de açúcar, que lhe era servido de graça. O “barman”, de tanto expulsá-lo, acabou até conversando com ele e agora faz sua parte para diminuir a fome nas localidades. Enquanto come o pão, Osvaldo olha pela vidraça desconsolado, vendo o movimento mecanizado da cidade, um “bolo de carne humana não pinicada” entrando e saindo do metrô:
-”trabalhar....trabalhar....”, foi esse o comentário de um desempregado quando lhe perguntaram as horas.
Embora tudo parecesse monótono, depressivo e solitário, Osvaldo ainda carregava consigo a vontade de ser um trabalhador honesto, cuja felicidade chegaria a ser comparada com a de Lucy. Uma jovem menininha que vive sua infância planejada e sendo realizada pela sua babá. Uma garotinha que tinha tudo, menos a felicidade que, para ela, seria estar próxima dos pais.
Lá estava ela observando pela janela do apartamento que era obrigada a ver todos os dias, um casal de classe alta muito alta, ricos em outras palavras... O homem da casa, Rodolfo, era bem conhecido socialmente, já que diferente de sua esposa, que é extremamente material, ele costumava fazer crianças felizes com eventos para a recreação, nomes bem simples eram dados para esses eventos, “0800”. Sua esposa, Marta, criada numa família rica, pais ricos, avós ricos, o que der para imaginar de “tatatatata....taravós” na família dela, eram ricos. Acabou se casando com o Jorge, depois com o Douglas, final das contas está casada pela quinta vez.
Estavam a fazer compras. Casacos de pele, cachecóis, entre outras peças para vestimenta finíssima. Ao ver o resultado da conta, coitado! Quase que se foi de enfarto. Apesar de rico agora, existem poucas pessoas que conhecem o valor de um número com 4 algarismos antes dos centavos, e que ainda antes dos 4 algarismos vem o que mata, “VALOR TOTAL”.
Foi até a janela para respirar um pouco e pensar. Quando viu uma garotinha que os observava pensativa, olhou ao redor viu numa construção dois rapazes felizes da vida, um entrando na construção de terno com um sorriso que vai até as orelhas, o mesmo se via do homem que saia correndo da construção, rotinas da cidade... O rapaz que entrava, era o Osvaldo, que teve a sorte de ser confundido com um trabalhador e ser posto para fazer serviço na construção, já o outro, era o Jão que finalmente se deu conta que a vida dele não era naquela construção, e saiu daquela rotina.
Ambos, no momento que pararam para pensar, perceberam que faltava algo para despertar a felicidade. Para a jovem Lucy seria a presença dos pais, para o Rodolfo seria a liberdade, já que era controlado pela esposa, para o João seria a paz, descanso, um pouco de diversão, para o Osvaldo, foi o emprego que lhe faltava a muito tempo. Final feliz e muito blá blá blá para sempre... essas são mais algumas das coincidências que ocorrem numa cidade grande...

3 comentários:

  1. Grande Marcel:

    A idéia é excelente e seu texto encantador. Usemos a correria da cidade grande para fazer coisas interessantes e que nos comuniquem com os outros, de modo inteligente. Você é um cara muito capaz e sensível. Mãos a obra e muito sucesso nessa grande aventura da vida.
    Abraços,

    Hamilcar.

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  2. Olá, Marcel!!!!
    Você está se tornando muito eloquente, expressando bem suas idéias...tá de parabéns, priminho...
    Desejo muito sucesso em sua vida!!!!!!

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