quinta-feira, 14 de julho de 2011

Desenvolvimento Psicossocial na Primeira Infância

Se refere à primeira parte de uma Resenha produzida na disciplina/matéria/cadeira "Introdução à Psicologia do Desenvolvimento".

Servindo também como uma homenagem ao professor que ministrou a disciplina, André Faro (UFS). Que além de nos ter passado bastante conhecimento de uma forma crítica, propôs e acredita numa ideia que pode mudar muitas coisas se vingar. "Uma escola preparatória para Pais e Mães".

Sendo assim, como contribuição, repasso este conhecimento e esta ideia.

Referência: PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. Trad. Daniel Bueno. 7ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

(Parte 1/4)

DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL NOS TRÊS PRIMEIROS ANOS DE VIDA

De início, é proposta a temática a ser trabalhada: que a competência física e cognitiva tem suas raízes no desenvolvimento da personalidade e nos relacionamentos com seus pais e outros desde o primeiro dia de vida.

Para com os “Fundamentos do desenvolvimento psicossocial” é tratada a questão das influências inatas e ambientais que os bebês possuem e recebem, demonstrando, a partir delas, que há o compartilhamento de padrões comuns de desenvolvimento.

Por exemplo, as “Emoções”, estas ligadas às percepções cognitivas – elemento fundamental da personalidade. As emoções, sendo elas agradáveis ou desagradáveis, motivam algum comportamento. Não tão distantes, as emoções sentidas pelos bebês dos adultos, segundo Carrol Izard e seus colegas, as emoções que perpassam pela expressão facial dos bebês é bastante semelhante às expressões dos adultos. O que poderia se dizer que os bebês estão experimentando estes sentimentos ou algo semelhante.

No “desenvolver das emoções”, pode ser observado do ponto de vista etológico a partir do momento em que consideramos a sobrevivência. Ora, é preciso incitar um diálogo, uma primeira linguagem para que o bebê receba o alimento. É de se saber que o choro “é o modo mais poderoso, por vezes único modo – pelo qual os bebês podem comunicar suas necessidades.” Sendo esta, uma característica do “mostrar suas emoções”. No mais, continuando o processo de desenvolvimento, as emoções de autoconsciência vão se tornando mais aparente. Sendo esta considerada “a compreensão das outras pessoas e coisas.”

No chorar também é desenvolvida a sensação de poder. À medida em que chora, alguém aparece – normalmente a mãe – lhe oferecendo conforto e alimento, por exemplo. O rir e sorrir são outras formas de expressar-se. Sendo estes mais ligados ao vínculo social para com o outro. É de se saber que há um certo encadeamento: 1º mês, sorrisos frequentes e mais sociais; 2º mês, à medida que é feito o reconhecimento visual; 3º mês sorrisos mais largos e duradouros (Kreutzer & Charlesworth, 1973; Sroufe & Waters, 1976; P. H . Wolff, 1963). Para tanto, é importante que saibamos que o riso ajuda no descarregamento de tensão.

Assim, devemos perceber que há uma variação no temperamento do bebê, como em qualquer outra pessoal, o que é vinculado à personalidade do mesmo. De se saber que o temperamento é o como do comportamento; não o que as pessoas fazem, mas como – de que maneira – o fazem. (A. Thomas & Chess, 1984).

Para com os “Componentes e Padrões de Comportamento” o Estudo Longitudinal de Nova York (NYLS) acompanhou 133 bebês até a fase adulta e identificaram certos componentes que geralmente permanecem estáveis: níveis de atividades, ritmicidade, ou regularidade, previsibilidade dos ciclos biológicos, aproximação ou afastamento, adaptabilidade, limiar de responsividade, intensidade de reação, qualidade do humor, distratibilidade, duração e persistência da atenção (A. Thomas, Chess & Birch, 1968). Seus dados apontam que quase dois terços das crianças do estudo longitudinal se encaixavam em um das categorias: crianças fáceis, crianças difíceis e crianças de adaptação lenta. Que são, no caso, os padrões de comportamento.

Dessa forma, é de se saber que há a possibilidade de “influência no temperamento”. Por mais que pareçam inatas e amplamente hereditárias (Baungart, Plomin, Defries & Fulker, 1992; Emde et al., 1992; A. Thomas & Chess, 1977, 1984).

Para uma “adaptação harmoniosa”, é preciso que se conheçam os “efeitos do temperamento”. “A chave da boa adaptação é um bom ajuste entre a criança e as demandas e pressões exercidas pelos pais ou cuidadores”. É preciso encarar o temperamento da forma mais natural possível, por mais que este seja inato, extrair o melhor dele para colaborar com o desenvolvimento do bebê. “O 'grau de harmonia' entre os pais e a criança – o grau no qual os pais se sentem à vontade com o padrão temperamental da criança – é um fator importante na adaptação desta”.

Sendo assim, é de se considerar que, normalmente, as “primeiras experiências sócias da criança” acontecem na família. “Os relacionamentos formados durante a primeira infância afetam a capacidade de formar relacionamentos íntimos durante toda a vida”. E as crianças, da mesma forma que são afetadas, afetam os sujeitos e o meio – humor, prioridades, planos e até mesmo relacionamento conjugal dos pais.

Para com o “papel da mãe”, é importante saber que alimentação não é a coisa mais importante. Conforto e contato físico compreendem um universo de possibilidades para um desenvolvimento do bebê. Contudo, não menos importante, deve-se considerar as influências culturais, ora pois, por mais que semelhantes em seu desenvolvimento, as crianças recebem influências de diversas formas e, a partir dos modos os quais estas se desenvolveram, a cultura irá ser mais um componente a influenciar.

Para com o “papel do pai”, estes também possuem papel fundamental no desenvolvimento do bebê. Puxando os dedos, mexendo em seus braços, abrindo os olhos. “Os novos pais orgulhosos admiram seus bebês e os tomam nos braços”. É preciso que estes pais sejam sensíveis e responsivos. Um estudo para com 48 pais irlandeses mostra que: “Os homens com maior probabilidade de cuidarem de seus bebês eram os mais jovens, os felizes no casamento, os que estiveram presentes no nascimento dos filhos e os que haviam modificado seus horários de trabalho para dividir as tarefas domésticas (Nugent, 1991). Porém, ainda assim, constata-se em outros lugares que “Mesmo mães que trabalham tempo integral passam mais tempo tomando conta dos bebês do que os pais” (Pedersen, Cain & Zaslow, 1982). Passando a imagem de que o pai é o animador, passando mais tempo brincando, do que cuidando – alimentando ou banhando.
E nesse “cuidar” diferenciado dos pais – não só dos pais, mas das mães também – para com os bebês, é que vai instituindo-se as “diferenças de gênero”, no caso, a tipificação sexual. “Processo pelo qual as crianças aprendem o comportamento que sua cultura julga apropriada para cada sexo” (Bronstein, 1988). “Os pais encorajam as meninas a se comunicar, mas desencorajam os meninos de fazê-lo.

O mesma acontece se visualizarmos por brinquedos. Há a própria tipificação dos mesmos: brinquedos de meninos e brinquedos de meninas. “Quando as crianças tinham cinco anos de idade, os pais tratavam ambos os sexos quase da mesma maneira – possivelmente porque as crianças já haviam sido tipificadas quanto ao sexo e não precisavam ser mais influenciadas naquela direção (Fagot & Hagan, 1991).

2 comentários:

  1. Olá, Marcel.
    Inicialmente agradeço à menção e desejo fazer um breve comentário sobre a proposta da Escola de Pais.
    A Escola de Pais parte de uma ideia simples e, com algum esforço, possível de ser realizada. Tratar-se-ia de um acompanhamento sistemático dos pais desde o período da gravidez até os primeiros anos de vida da criança (preferencialmente antes da idade escolar), fornecendo-lhes orientações acerca do desenvolvimento infantil e de que modo pais e mães influenciam a história de vida – passado, presente e futuro – de alguém; seu filho. Dentro dessa noção, contemplaríamos o próprio desenvolvimento da personalidade e o desafio da apresentação de um nova pessoa ao mundo, caracterizando a importância dos pais nesse período da vida.

    Temas como o apego mãe-filho, a presença do pai nessa relação, a influência (positiva e negativa) dos demais familiares e esclarecimentos sobre o que é (ou não) esperado para cada etapa do desenvolvimento seriam assuntos em pauta. Vale destacar, sobretudo, a importância de desconstruir algumas crenças equivocadas acerca da criação dos filhos, que são herdadas através de experiência ou obtidas em aprendizado, mas que ainda impactam negativamente no cuidado das crianças (por ex. como impor limites e punições, preconceito, sexualidade, etc.), estariam como tópicos a serem discutidos com os pais; ouvindo-os, principalmente, buscar-se-ia formar novas concepções sobre os papéis materno e paterno.

    Embora tais ações sejam, de algum modo, abordadas em meio à mídia geral ou quando as crianças iniciam sua vida escolar, pensamos que esse cuidado para com os pais (e não somente os filhos) devesse ser iniciado ainda na fase da gestação, pois, como se concebe na Psicologia, desde esse momento as interações pais-filho já se estabelecem e, bom ou mau, perduram significativamente na vida do futuro adulto.

    Finalmente, poderíamos dizer que seria uma Escola de Pais com intenção profilática (ou psicoprofilática), visando à prevenção/minimização de algumas dificuldades que os pais tendem a enfrentar durante a criação de seus filhos, mas que nem sempre possuem o apoio e orientação necessários para lidar de modo satisfatório com os desafios da maternidade/paternidade. Sem dúvida, com pais e mães mais “saudáveis” ao exercerem seus papéis de cuidadores, aumentaríamos a probabilidade de termos futuros adolescentes, adultos e idosos, hoje crianças, também mais saudáveis; e por que não, melhor preparados para a vida.

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